Violência contra a mulher: entrevista com Suzanne Marie Mailloux e Edwirges Horváth

Em Setembro de 2021, o Vivalocal firmou parceria com a Associação Fala Mulher, que tem foco em combater a violência contra a mulher e buscar a igualdade entre gêneros. Desde de então, apoiamos essa causa e reforçamos nosso compromisso de nos esforçar para que nossas anunciantes tenham as condições adequadas para trabalhar em segurança e garantir o próprio bem estar.

Nesta conversa incrível, a canadense e fundadora Suzanne Marie Mailloux e a presidente Edwirges Horváth compartilham suas experiências, as principais dicas e conselhos para ajudar profissionais do sexo a se manterem seguras(os), e visões para o futuro da Fala Mulher. E vale muito a pena conferir! 

Vivalocal: Como tudo começou? Por que você decidiu iniciar o projeto Fala Mulher trabalhando especificamente com a comunidade de profissionais do sexo?

Suzanne: Me mudei do Canadá e vim para São Paulo em 1995 com o objetivo de desenvolver trabalhos sociais. Na época, morei no Jardim Ângela na região sul da cidade, e no desenrolar do trabalho, observei o contexto de violência doméstica vivenciado por algumas crianças e mulheres, o que me motivou, a partir de uma perspectiva de gênero, a me aprofundar nas relações domésticas e familiares. Como fruto desse aprofundamento, em 2004, me reuni com outras mulheres e fundei a Associação Fala Mulher, junto com mais dois projetos simultaneamente.

No início assumimos o projeto na Liberdade que apoiava especificamente profissionais do sexo, ajudando esses profissionais a enfrentarem a pobreza e a violência no trabalho. E foi um projeto maravilhoso! Que nos ajudou muito a repensar o papel dessas profissionais na sociedade, de ensiná-las que elas são mulheres como a gente e que têm os mesmos direitos de qualquer trabalhador. Junto com esse projeto, iniciamos também um trabalho em uma Casa Abrigo no ABC para atender mulheres que sofriam de violência doméstica, que futuramente se tornaria a Fala Mulher.

Vivalocal: Quais foram os principais desafios que profissionais do sexo enfrentavam na época? É diferente dos desafios de hoje?

Suzanne/Edwirges: Combater a pobreza e violência sempre foram os principais desafios que essa comunidade enfrentou e ainda enfrenta. Na questão da pobreza, por exemplo, muitos desses profissionais chegavam a cobrar R$5,00 por programa na época. Muitos deles dormiam em albergues e tinham condições precárias de vida. Além disso, muitas dessas profissionais também enfrentavam muitos problemas com a questão de território, onde muitas delas brigavam entre si por não terem um ambiente de trabalho organizado. 

Na saúde, por exemplo, me lembro que chegamos a convencer uma profissional a não usar esponja de cozinha ou miolo de pão para conter a menstruação e poder trabalhar. E ainda hoje produtos de higiene feminina estão caríssimos, quase R$8,00 por um pacote de absorvente, um absurdo! 

E mesmo oferencendo ajuda para essa comunidade da região da Liberdade em São Paulo, a procura de profissionais do sexo e transexuais era muito baixa. O motivo pelo qual isso acontecia e acontece, seja a falta de políticas públicas para esses profissionais, pelo estigma que essa comunidade sempre sofreu perante a sociedade, e por serem muito ocupadas, elas acabam sem tempo de procurar ajuda também. 

Acreditamos que essa comunidade sofre grandes problemas relacionados a identidade também. De se sentirem pertencentes a algum lugar, de ter pessoas e organizações que apoiam esses profissionais. Em suma, infelizmente não vemos uma mudança tão drástica em relação aos problemas que profissionais enfrentavam e enfrentam hoje em dia. 

Vivalocal: Vocês poderiam fornecer conselhos práticos para profissionais do sexo: principais dicas para ajudá-los a se manterem seguros, com quem eles podem falar se se sentirem ameaçados ou precisarem de conselhos?

Suzanne/Edwirges: Nossa equipe está sempre preparada para atender e fornecer ajuda às pessoas que estão enfrentando problemas relacionados a violência, saúde, ajuda psicológica e orientação jurídica. E o nosso serviço S.O.S Fala Mulher é onde você encontra ajuda de um jeito mais rápido e seguro. Ele fica localizado no nosso site, no canto esquerdo da tela (veja abaixo). Você precisa apenas completar os campos obrigatórios, como o seu nome e o assunto que você gostaria de tratar com o nosso time de apoio. 

Atualmente, o Brasil ocupa o quinto lugar no ranking mundial de assassinatos de mulheres. O Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em seu último estudo, indica que em 2020, devido à pandemia da Covid-19, os registros de feminicídio cresceram 22,2%. Os dados indicam que 1 mulher é assassinada a cada 2 horas no Brasil. E para lutar contra esses números, a Fala Mulher também foca no propósito de empoderar mulheres, fornecendo informações sobre relacionamento abusivo, e quais as ferramentas que podem ser acessadas para romper o ciclo de violência doméstica.

COMO PROCURAR AJUDA

  • DISQUE 180

O Disque 180 é uma Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência, um serviço público, gratuito e confidencial. Está disponível 24 horas, todos os dias e aceita denúncias anônimas.

  • DELEGACIA DA MULHER

Qualquer delegacia atende todo tipo de público, porém há delegacias especializadas em atendimento à mulher vítima de violência. No estado de São Paulo são pouco mais de 130 Delegacias de Defesa da Mulher, sendo 9 na capital, das quais 7 funcionam 24 horas. Clique aqui para conhecer os endereços.

  • POLÍCIA MILITAR

Quando você se sentir ameaçada e em perigo, ou presenciar alguma mulher sofrendo uma agressão, ligue para a Polícia Militar – 190. 

  • PLATAFORMA SOS MULHER

A plataforma online desenvolvida pelo Governo do Estado de São Paulo possui informações importantes que podem ajudá-la a procurar ajuda.

Para mais informações acesse o nosso site na página Empoderese.

Vivalocal: Onde vocês vêem o Fala Mulher nos próximos 10 anos?

Suzanne/Edwirges: O nosso sonho é expandir os nossos serviços e modelo de atendimento em outras comunidades, e que possamos atender em lugares fora da cidade de São Paulo e até quem sabe internacionalmente! 

Atualmente nossos principais serviços são as Casas Abrigo, que é um serviço de acolhimento provisório, que oferece moradia, alimentação, transporte, assistência social, apoio psicológico e atividades socioeducativas nas unidades CIOESTE e Casa Maria Rosa. O Centro de Defesa e Convivência da Mulher, que é um serviço destinado às mulheres em situação de violência doméstica. Oferece atendimento psicossocial, orientações e encaminhamento jurídico e atividades socioeducativas, voltadas para oficinas de artesanato, incentivando o empreendedorismo feminino e a autonomia financeira nas unidades do Butantã e Casa Verde. E, o Núcleo de Proteção Jurídico, Social e Apoio Psicológico, um serviço associado ao Centro de Referência Especializado da Assistência Social – CREAS, com a finalidade de assegurar atendimento especializado para apoio, orientação e acompanhamento às famílias com um ou mais de seus membros em situação de ameaça ou violação de direitos nas unidades do Butantã, Pinheiros e Vila Maria.

 

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